Feche os olhos por um instante: quando você pensa em espiritualidade, o que surge em seu coração? Uma religião? Um ritual? Ou talvez um caminho para se tornar mais humano?
Mais do que um dogma, espiritualidade pode ser vista como uma jornada para compreender quem somos, de onde viemos e qual é o nosso papel no mundo.
Uma vez ouvi que o ser humano não tem defeitos, mas sim, é incompleto. A busca por “completar-se” pode ser entendida como um movimento de expansão da consciência. É o esforço de ampliar a noção de quem somos, perceber nossa relação com a vida e compreender nosso lugar no universo.
Essa jornada é ao mesmo tempo interior e exterior.
- Interior, porque envolve olhar para dentro: reconhecer o que sentimos, como reagimos, o que nos importa de verdade.
- Exterior, porque vivemos em sociedade: influenciamos e somos influenciados pelas circunstâncias, pelos vínculos, pelo que acontece ao nosso redor.
A espiritualidade nos convida a tomar ações deliberadas para ir além de nós mesmos.
Algumas práticas simples, nos podem ajudar nessa caminhada:
- Realizar algumas detenções durante o dia. Parar um minuto, respirar profundamente, tomar consciência de onde está, o que está fazendo, como está sentindo, prestar atenção ao corpo. Se dói algum órgão, algum músculo….
- Não reclamar. Fazer um propósito de não reclamar, durante um período do dia, ou o dia todo, uma semana. Não reclamar, nem do tempo. Se chove, ou se faz calor. Não reclamar do trânsito, da política, da economia ou das pessoas. Não reclamar.
- Ao contrário, agradecer. Agradecer pelas possibilidades que a vida nos apresenta a cada momento. Essa prática nos ajuda a perceber a vida como um todo, tanto os instantes que consideramos como agradáveis, e também os desagradáveis.
- Realizar um exame retrospectivo. Toda noite, antes de deitar-se, repasse rapidamente o vivido durante o dia, os bons e os maus momentos, as boas e as más notícias. Reviva, e deixe ir, solte……..
“Minha vida”: uma visão que se expande com a consciência
Atribui-se a Santiago Bovisio, fundador de Cafh, a seguinte frase;
“Quando a expressão ‘minha vida’ se reduz ao que ocorre no pequeno núcleo de interesse pessoal, a relação com a vida é com a circunstância pessoal. Quando ‘minha vida’ inclui a sociedade circundante, a relação com a vida se expande até incluir essa sociedade. Quando ‘minha vida’ é toda realidade que o ser humano pode apreender com sua consciência, a relação com a vida abarca toda a humanidade e ao Universo.”
Essa reflexão nos convida a perguntar: o que significa para mim “minha vida”? Em que estágio dessa expansão eu me encontro?
Esse é sempre o ponto de partida.
Como toda jornada, o caminho espiritual tem momentos de calmaria e momentos de tormenta. Nada é fácil. É preciso perseverança, coragem e determinação.
Espiritualidade não é apenas “querer”, é decidir e agir em direção a uma maior conexão com o entorno, com a humanidade e com o universo. É um ato de vontade.
Fortalece o sentido de interdependência, de se saber como parte do todo e agir em consequência, com senso de compromisso e responsabilidade.
Espiritualidade como prática de empatia
Uma das maiores lições da espiritualidade é desenvolver a empatia: reconhecer o outro como ele é. Esse passo, embora difícil, é essencial.
Um primeiro exercício é reconhecer nossos privilégios. Pergunte a si mesmo:
- Tenho oportunidade de almoçar e jantar todos os dias?
- Tenho uma casa onde morar, me abrigar?
- Tive a chance de aprender a ler e escrever?
- Sinto-me amado, amada? Reconhecido, reconhecida?
Se respondeu “sim” à maioria dessas perguntas, pense em quem responderia “não”. O que você sente?
Somente esse ato de consciência já abre uma pequena flor de empatia no coração e nos torna mais permeáveis à dor dos demais. E isso, também, é espiritualidade.
A espiritualidade não é um fim, mas um caminho vivo. Ela floresce em cada gesto de cuidado, em cada ato de reconhecimento, em cada decisão de se abrir para além de si mesmo.
É um chamado que ecoa em silêncio:
Olhe para dentro, veja o que precisa transformar, e então olhe para fora, para servir e amar. Saiba mais.



