Entrevista a Ana Cristina
Em outubro de 2024, Ana Cristina visitou os membros de Cafh na Alemanha. Aproveitamos a ocasião para fazer-lhe algumas perguntas.
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Ana Cristina, a senhora é diretora de Cafh, há 5 anos. Como tem sido, até agora, esta experiência e quais são os desafios desta função?
Para mim, pessoalmente, tem sido uma experiência muito intensa e enriquecedora, com uma aprendizagem constante. O mais importante para mim até agora tem sido “conhecer” quase todos os 4.000 membros de Cafh, primeiro virtualmente e agora também no lugar onde vivem. Estou aprendendo muito sobre como funciona Cafh e o que é importante, na atualidade, para o nosso desenvolvimento espiritual. Isto me abre uma ampla perspectiva.
Demorei um pouco para me acostumar com o ritmo e com os desafios desta função. Porém o método de Cafh e o fato de haver vivido em uma comunidade de Cafh, há mais de 30 anos, têm me ajudado.
Uma característica especial desta função de liderança é que Cafh é uma organização com um propósito e um tema espiritual e por isso não é dirigida da mesma forma que qualquer outra organização. A nossa missão tem a ver com o desenvolvimento espiritual individual das pessoas e com o efeito transformador que este desenvolvimento pode produzir no entorno e na sociedade. Isto requer abertura, flexibilidade, escutar, reconhecer e compreender o momento que estamos vivendo como humanidade. Um tempo de muitas mudanças, incertezas e exigências externas para as pessoas. Cafh acompanha as pessoas em seu processo de desenvolvimento pessoal e provê as ferramentas necessárias, em termos de práticas espirituais, para facilitar o desenvolvimento interior e a relação com os demais.
As pessoas necessitam experimentar a presença, o silêncio, a paz, a meditação, conhecer-se a si mesmas, fazer exercícios de introspecção, seguir um método de desenvolvimento que lhes ajude a transformar sua vida no que elas desejam oferendar à humanidade.
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Como os seus dois predecessores, a senhora vive em uma comunidade. Seria este um requisito prévio para a função de líder?
Antes de responder a esta pergunta, convém esclarecer que Cafh oferece diferentes formas para viver o compromisso que temos com nós mesmos e com Cafh: em família ou em Comunidade.
A vida em Comunidade consiste em viver em celibato, junto com pessoas que compartilham a mesma vocação espiritual e de acordo com um método de vida que inclui a meditação, a oração, o estudo e o trabalho produtivo para garantir o próprio sustento. E também compartilhar bens em comum.
Apesar de os três últimos diretores de Cafh que elegemos, desde muito jovem, viverem em uma comunidade de Cafh, esta não é uma condição necessária para a liderança. Por exemplo, o fundador de Cafh, Santiago Bovísio, era casado e tinha filhos. A pessoa pode postular-se como diretor ou diretora de Cafh se tiver disposição para comprometer-se ao máximo. Pode levar uma vida familiar, viver sozinho ou – como fazem poucas pessoas – conviver com pessoas afins em uma comunidade.
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A senhora exerce a sua função com o apoio de uma equipe. Quantas pessoas compõem esta equipe? E se reúnem para trabalhar em um mesmo lugar, por exemplo, em um escritório?
Minha equipe imediata é formada por 14 pessoas, 7 mulheres e 7 homens. Todos estão comprometidos com Cafh. São de países diferentes, com diferentes antecedentes culturais e falam diferentes línguas maternas. Não temos um escritório central nem um edifício e trabalhamos, principalmente, de forma virtual, por e-mail, videoconferência ou por outros meios de comunicação. Cafh está presente em 27 países, em 5 continentes e os membros da equipe representam diferentes culturas, idiomas, idade e outras características.
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Como é financiada a sua função como diretora? E os membros da equipe diretora trabalham exclusivamente para Cafh?
Todo trabalho e compromisso em Cafh são voluntários. Cada um decide por si mesmo até que ponto quer assumir tarefas de responsabilidade. Geralmente não há nem pagamento nem salário. Cada um é responsável pelo próprio sustento. Alguns dos membros da equipe já estão aposentados e outros continuam trabalhando em suas profissões. No caso da função de direção de Cafh, no entanto, o volume de tarefas é tão grande que não posso fazer outro trabalho. Por isso recebo uma remuneração mensal da organização.
A organização de Cafh se financia com as contribuições voluntárias de seus membros. Em alguns países há instituições de Cafh, sem fins lucrativos, que administram estas doações; em princípio, as doações ficam no respectivo país ( membro). Porém cada país contribui com a organização com uma cota de acordo com o número de membros, para apoiar, por exemplo, gastos comuns com diversas plataformas de Internet, assembleia geral anual etc.
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Cafh oferece a oportunidade de se participar em diversos graus. Há membros que assumem um maior compromisso e responsabilidade com o trabalho de Cafh (“Ordenados”) e há outros membros menos comprometidos. Em que grupo há mais membros?
Cafh conta com três níveis de compromisso, com atividades e responsabilidades crescentes. É um processo gradual e progressivo através do qual cada pessoa vai conhecendo, familiarizando-se e elegendo livremente se deseja assumir o compromisso seguinte ou permanecer onde se encontra. Cada nível é uma modalidade em si mesma e oferece recursos para o próprio desenvolvimento da espiritualidade.
Não importa em que etapa de desenvolvimento a pessoa se encontre, seja um principiante ou um membro que já participa há mais tempo, nenhuma afirmação ou avaliação sobre o grau de desenvolvimento espiritual está associada a etapa. Isto significa que inclusive um principiante em Cafh pode estar vivendo uma espiritualidade profunda. Portanto, ainda que haja um progresso individual no desenvolvimento, a pessoa não faz uma “carreira “, não há uma hierarquia de pessoas espiritualmente “mais desenvolvidas”. Quanto maior é o compromisso, maior é a responsabilidade consigo mesmo e com Cafh. Estamos falando de mais ou menos 35% de pessoas que ainda estão conhecendo Cafh e devido a sua curta participação como membros não têm maior responsabilidade; de uns 50% que estão decididos e convencidos deste caminho e o expressam através de seu compromisso e em torno de uns 15% que assumiram maior compromisso com tarefas de delegação e funções de liderança. Cada um é livre para eleger o nível no qual deseja participar.
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Cafh se descreve a si mesmo como um “corpo místico” e se desenvolve como grupo e através do trabalho individual de desenvolvimento de seus membros. Em Cafh existe a possibilidade de haver um diálogo para ‘orientação espiritual’. Qual é a intenção desta possibilidade?
A orientação espiritual é um dos elementos do método de Cafh – assim como a meditação, a oração, a leitura espiritual, as reuniões semanais, os retiros – que juntos formam um conceito global.
A direção espiritual adota a forma de diálogo entre a pessoa que solicita e a que oferece. Esta última é alguém que já tem experiência com a prática do método e o processo de desenvolvimento. É oferecido à pessoa que solicita um “espaço” de confiança, afetuoso, receptivo e seguro, sem julgamento, no qual a pessoa possa olhar a si mesma, trabalhar as dificuldades e encontrar suas próprias respostas. A tarefa do orientador consiste em favorecer esse processo de conhecimento de si mesmo, escutando, fazendo perguntas ou sugestões. Mas cada pessoa decide por si mesma como quer viver e, também, o que quer compartilhar, nesse diálogo. Às vezes é útil que a pessoa que solicita a orientação coloque as suas perguntas em primeiro lugar.
Um dos princípios fundamentais de Cafh é o respeito à liberdade de cada pessoa para pensar, sentir e decidir sobre a própria vida, sem a interferência de terceiros. Por esta razão, a liberdade do indivíduo também é absolutamente respeitada nesta sessão de orientação.
Cafh é um caminho para gerar paz interior e liberdade em cada ser humano.
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A senhora está em contato com grupos de Cafh em diferentes países e continentes. Percebe que há preocupações, problemas ou prioridades diferentes?
Dou-me conta de que as pessoas têm as mesmas perguntas, anseios e dificuldades, a mesma busca, independentemente de sua cultura ou origem. Os matizes culturais representam um papel secundário quando se trata do desenvolvimento espiritual.
A necessidade de responder às perguntas básicas da vida – tais como, por que estou neste mundo? Para que estou aqui? Ou que sentido tem a vida? – são comuns entre os seres humanos em qualquer país do mundo e em distintas idades.
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Cafh é uma nova religião?
Não, Cafh não é uma religião. Cafh é uma organização aberta a qualquer pessoa que esteja de acordo com o objetivo e com a missão de Cafh, isto é, o desenvolvimento espiritual e a expansão da consciência, para viver com mais paz, equilíbrio e liberdade interior.
Portanto, qualquer pessoa pode se unir, mas é claro que é desejável que tenha “honorabilidade”, isto é, integridade moral. O único requisito é o interesse em trabalhar em si mesmo, no próprio processo de desenvolvimento espiritual. Cafh não busca adeptos; Cafh não tem dogmas, ninguém deve “crer” em nada. Há um conteúdo (ensinanças) e um método, isto é, um conjunto de ferramentas para realizar este trabalho de desenvolvimento, através do qual cada pessoa faz as suas próprias experiências e descobre por si mesmo o processo de desenvolvimento.
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Qual é a tarefa fundamental de Cafh e por que é tão importante para a humanidade?
Cafh propõe um trabalho individual de cada pessoas sobre si mesma para promover a sua própria consciência e desenvolver o seu melhor potencial e possibilidades humanas: por exemplo, o amor, a paz, as boas relações.
Também propõe um trabalho em pequenos grupos para praticar, o que permite criar relações harmônicas baseadas em valores como o respeito, a aceitação, a amizade, a inclusão, tudo o que enfatiza mais o essencial do que as diferenças. E em Cafh, damos a este trabalho uma dimensão transcendente: quando o indivíduo muda e quando os grupos de pessoas mudam, então começa também uma mudança na sociedade – uma mudança para mais consciência, inclusão e respeito pela vida em todas as suas manifestações. A mudança se produz de dentro para fora.
E este desenvolvimento não só é bom para o indivíduo, mas também é uma forma de contribuir para a evolução da humanidade. Os grandes avanços da humanidade não costumam ser o resultado de grandes movimentos. Às vezes nem sequer vemos o efeito diretamente: talvez os nossos esforços sejam uma contribuição para as gerações futuras, porém vai mais além de nós mesmos.
Cafh oferece as ferramentas necessárias para desenvolver esses trabalhos: diferentes tipos de meditação, leituras inspiradoras, cursos, retiros espirituais, orientação espiritual individual, orações e estudo em grupos, entre outras ferramentas.
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Gostaria de deixar uma mensagem para os membros de Cafh da Alemanha?
Desejo que não percam a esperança. O trabalho que elegemos fazer não tem resultados brilhantes nem sensacionais. É mais um trabalho silencioso sobre as raízes dos problemas. É uma forma de contribuir eficazmente para um mundo melhor, tal como somos e com o que nos faz ser quem somos.
Ana Cristina, agradeço por esta entrevista!
Perguntas, entrevista, tradução e edição: Dorothee Engels, Claudia Calzada, Michaela Recht

Ana Cristina Flor é membro de Cafh há 40 anos e atualmente é sua diretora. Acredita firmemente na possibilidade de um mundo com mais consciência e que cada um de nós tem o poder de criá-lo. Ela se sente profundamente comprometida com esta transformação.