Hoje acordei com uma estranha sensação de insegurança que não soube nem identificar e nem relacionar a nada específico que poderia tê-la desencadeado. Quando vi meu cachorrinho dormindo em frente à lareira, pensei: Que vida tranquila ele tem. Um tempinho depois, ele acordou e lhe perguntei: “Alfy, como você faz para enfrentar a incerteza?”. Alfy me olhou com um pouco de compaixão, deu meia volta e se escondeu atrás de um móvel e depois apareceu com um osso que eu havia lhe dado, há um mês, e o colocou diante dos meus pés. Deu uma rodada e voltou a se deitar diante do calor do fogo e adormeceu profundamente.
Fiquei olhando o osso, durante um longo tempo, tentando entender o que ele queria me fazer entender. Mas o osso não faz desaparecer a incerteza. Ou faz? Não, não faz desaparecer, mas talvez eu esteja me enfocando em algo que não é. O osso ainda está ali, quase me olhando e esperando algo de mim.
Alfy o trouxe para mim e voltou a dormir. É nisso que devo prestar atenção. Ele deixou o osso e voltou a dormir. Se penso nisso, percebo que a vida é mudança permanente, portanto, é natural que vivamos na incerteza, dando-nos conta ou não. Quando as coisas saem do jeito que se esperava, ou seja, quando o que acontece coincide com as minhas expectativas, então, claro, tudo vai bem e penso que estou pisando em terreno seguro, a incerteza desaparece, nem sequer penso nela. Mas o desafio é quando surge em mim esse desassossego de “não sei o que vai acontecer”. No fundo, pelo menos eu, não sei o que vai acontecer de um momento para outro, e isso é certeza.
Voltando à mensagem de Alfy, “Vou dormir tranquilamente”. Isso me parece equivaler a dizer “o que ganho antecipando o que vai acontecer?” Claro que não estamos falando sobre não ter pagado a conta de luz e então ir dormir… Falamos de coisas sobre as quais não tenho controle. Não tenho ideia de quando vou morrer. O que sei é que vou morrer, porque essa é a condição humana. Aposto que Alfy não se faz essa pergunta, penso, enquanto observo a sua barriguinha subir e descer no ritmo de sua respiração calma.
Já que estou refletindo, tento imaginar como seria a vida sem incerteza. Talvez eu saberia exatamente o que iria acontecer a cada momento. Estaria sempre no campo do conhecido. Haveria possibilidade de aprendizagem? Duvido. E em um caminho de desenvolvimento onde a gente se adentra voluntariamente no desconhecido, com a curiosidade para conhecer o que significa estar vivo, a incerteza implica oportunidades.
Então, não é o osso o assunto, mas a atitude de se relaxar e ao mesmo tempo viver observando o que vai acontecer em mim e ao meu redor. Claro, a incerteza gera desassossego e medo. Bom… Mas não sei se o que vem será algo negativo. Talvez seja algo positivo que eu nem sequer havia imaginado. Abrir-se ao desconhecido com confiança.
Confiança em mim, primeiramente, quer dizer que conto comigo mesma para enfrentar o desconhecido. Confiança em minha possibilidade de desenvolvimento e de expansão da minha consciência. E confiança de que tenho as ferramentas para responder ao que a vida me traz a cada momento: a meditação, o acompanhamento dos que caminham comigo, o revisar meu dia retrospectivamente e ir me conhecendo melhor.
Já se foi a sensação de insegurança com a qual acordei. Posso voltar a colocar o osso atrás do móvel de onde Alfy o pegou e relaxar-me sentindo o calor do fogo. Obrigada, Alfy.