Vivemos em uma época em que a palavra incerteza deixou de ser uma exceção e se tornou o estado natural do mundo. As transformações vertiginosas na tecnologia, na política, no clima, na saúde e na cultura nos fazem enfrentar, a cada dia, a instabilidade do que antes pensávamos que era seguro.
Os exemplos são muitos: a mudança climática intensificou os fenômenos externos, como as ondas de calor que atingiram o sul da Europa e a América em 2023 (Organização Meteorológica Mundial); as guerras prolongadas, como a da Ucrânia, que continuam perturbando a geopolítica e gerando deslocamentos em massa; a inteligência artificial avançando a uma velocidade que deixa para trás os modelos éticos tradicionais. A tudo isto somam-se os movimentos sociais, as crises econômicas e o impacto mental de viver conectados a um fluxo interminável de informação. Neste cenário, que lugar ocupa a espiritualidade?
Longe de ser uma via de escape, a espiritualidade – em particular, a mística – pode ser a arte de habitar conscientemente esta incerteza. O Místico de Hoje não busca certezas absolutas nem respostas fáceis. Seu caminho não é o da evasão, mas o da abertura, do discernimento e da transformação interior.
Cafh nos convida a desenvolver uma mística arraigada no presente, onde a incerteza não é um obstáculo, mas um campo fértil. Apenas a partir de uma mente flexível, de um coração aberto e de uma vontade disponível –como propõe Otto Scharmer em sua Teoria U— poderemos acompanhar as mudanças sem perder o centro. A incerteza, então, não se combate; se habita.
Este habitar implica uma nova atitude interior: deixar de buscar segurança externa e começar a construir uma confiança profunda em nossa capacidade de participar criativamente no devenir. A espiritualidade não se trata de ter resposta, mas de dar espaço ao desconhecido, de cultivar o silêncio, e sustentar a admiração.
Assim o Místico de Hoje aprende a caminhar no meio do caos com os pés firmes e a alma disponível. Não como quem sabe tudo, mas como quem se atreve a aprender, a cada dia, a partir do amor, da humildade e da responsabilidade compartilhada.
Porque na incerteza também floresce a vida. E é aí que pode emergir uma nova consciência para a humanidade.
Estamos chamados para desenvolver uma missão social, trabalhar a partir de um compromisso individual que implica fidelidade, escuta, presença e silêncio; dar-lhe um contexto mais amplo que ajude a lhe dar sentido e que permita ampliar consciência e que leve a trabalhar de forma deliberada, metódica e persistente.
Reflexão:
“O mundo muda, mas também o coração humano pode mudar. Habitar a incerteza não é resignar-se, mas é dispor-se a criar a partir do essencial.”
Baseado no Trabalho Anual 2023 TORP 171, Medellín – Colômbia “El Místico de hoy”.